DE JEAN-YVES LELOUP
" Do ponto de vista religioso,de um lado vemos as religiões proféticas e do outro lado as religiões de sabedoria.Do lado das religiões proféticas dá-se muita importãncia à Palavra e o profeta é o mensageiro da Palavra.Nas religiões de sabedoria fala-se menos e a presença do Ser ´transmitida através do seu brilho, através do seu silêncio....Cristo é tanto um profeta que fala, que carrega uma mensagem, quanto um sábio e algumas pessoas se curaram simplesmente entrando na luz da sua presença;ele é uma síntese entre as religiões proféticas e as religiões de sabedoria.Mas, na tradição cristã, algumas vezes este caminho do meio foi perdido...
Nós perdemos algumas vezes o caminho do meio na nossa maneira de olhar as igrejas.Alguns fazem da igreja uma instituição divina,com muita autoridade,como se Deus falasse através do papa e através dos padres.Do outro lado há uma abordagem unicamente sociológica, que vê na igreja uma instituição como as outras e, às vezes,pior que as outras,porque ela pode manipular a consciência das pessoas.O pior é a corrupção do melhor.
Assim,portanto, há análises de igrejas que não vêem senão o lado divino e outras que não vêem senão o lado humano.Daí a necessidade de encontrar novamente o caminho do meio.A igreja é cada um de nós, é nossa humanidade, é a humanidade na estrada da divinização.Ela não é uma instituição unicamente divina, os padres podem cometer erros;não se trata de idealizá-los,nem de idolatrá-los,nem desprezá-los
Isto é verdadeiro tanto em relação aos padres como em relação a outras realidades.Coloca-se então, no meio, a palavra respeito,que é uma forma de amor e que nos evitará cair nestes dois impasses que são a idolatria e o desprezo.
Algumas vezes, nas nossas relações uns com os outros, estamos em idolatria,que é semelhante à paixão,que é uma maneira de pedir o absoluto a um ser relativo.Quando este ser nos decepciona,nós entramos no desprezo.Nós nos decepcionamos na medida da nossa expectativa e passamos de um lado para o outro.A pessoa
que mais amamos torna-se a pessoa que mais detestamos.Isto ocorre na relação com um mestre quando ele não corresponde à nossa expectativa e então ficamos terrivelmente decepcionados,chegamos ao desprezo e podemos chegar ao suicídio.Judas pode ser um exemplo,ele passou de um estado de idolatria,de uma esperança imensa em relação a Jesus,para um estado de decepção e de desespero.Portanto,para evitar isto, é necessário saber respeitar,em todo ser e em toda coisa, a dimensão divina e a dimensão humana.
A mesma coisa ocorre no modo pelo qual tocamos alguém.Pode-se tocar alguém somente como um objeto,como uma doença,como uma coisa,como um objeto de prazer,pode-se tocar alguém como a um Deus e até mesmo, não ousar tocar.O importante é tocá-lo no meio,quer dizer, reconhecendo a dimensão divina da pessoa a quem tocamos, não esquecendo o Sopro que a habita,não esquecendo o espaço que existe nela, não esquecendo a divindade que está em seu ser.E manter os dois unidos.
Do mesmo modo, no nível das Escrituras Sagradas-alguns abrem a Bíblia e dizem:"É Deus que fala."Outros lêem a Bíblia e vêem que este texto foi composto por diferentes informações,que vem de diferentes diferentes civilizações, babilônicas,egípcias,etc.Alguns estudam a Bíblia somente como um livro de literatura.De um lado é um livro unicamente humano e de outro lado uma palavra divina.Neste caso, encontrar o caminho do meio é encontrar a categoria da Palavra inspirada, isto é,uma palavra humana movida pelo Sopro,uma inspiração que vem de mais longe.
Assim,novamente,não se trata de idolatrar a Bíblia,de fazer dela uma palavra de Deus mas não se trata, também,de desprezar este texto esquecendo a dimensão de inspiração que o habita.Encontrar o caminho do respeito é ler as Escrituras,reveladoras da vida divina, mas também da vida humana.Deve-se lê-las assim,reconhecendo-as como uma inspiração para o crescimento humano.Na Bíblia, reconhecer-se-á personagens muito humanos em seus desejos,em seus medos e estes personagens muito humanos eram habitados por uma esperança,por uma dimensão transcendente, colocando-os no caminho do divino.
Do ponto de vista comunitário,há,também dois impasses.Há a sociedade que produz o individualismo,onde cada um é separado dos outros.É o mundo da solidão e neste tipo de sociedade se dirá que a comunicação não é possível.Nós ficamos na superfície uns dos outros.Não entramos verdadeiramente na relação com o outro e a comunicação não é possível.Do outro lado, nós entramos em uma sociedade onde se negará a importância do indivíduo,em que se negará a importãncia do Ego,a importância do Eu e se dirá que o predomínio é do individualismo,com todos os egoísmos e negação da liberdade que ele supõe.Como escapar a estes dois impasses, a esta solidão, a esta fallta de comunicação e a esta dissolução da personalidade?A esta negação do gênio próprio a cada um?
O caminho do meio é reencontrar uma sociedade de comunhão.Isto é fácil de dizer,mas não é fácil de viver e de realizar...Porque na comunhão há o sentido do indivíduo, do que ele tem de único,de particular.Não há outro tu senão Tú.Mas ao mesmo tempo você não pode separá-los.Nós estamos interligados,não estamos separados nem misturados.O futuro poder-se-á realizar,mas com os outros.Não se trata de simplesmente ser.Trata-se de ser com. A atitude de comunhão,quando alguém vem à comunidade para ser cuidada(o) deverá ser verbalizada da seguinte forma:"Vá em direção a você mesma(o);torne-se quem você é;eu não posso pensar por você,eu não posso querer por você.vá em direção a você mesma(o).Mas eu estou com você!(Isto deve ser enfatizado...).
A ajuda terapêutica, é o caminhar junto,não para estar com o outro para estar em seu lugar, para pensar em seu lugar,ou resolver seus problemas, mas para ajudá-lo a encontrar ,por ele(a) mesmo(a), a solução de suas próprias dificuldades.Esta solução é também a palavra de Deus a Abraão,quando Deus disse:Vá em direção a você mesmo! Eu estou com você no caminho!"Nesta situação não há dependência; isto quer dizer:ambos estão juntos,sem dependência,estão em comunhão,em relação - na comunhão da liberdade!
(Esta visão acima é do Colégio dos Terapeutas).
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