quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Duas poesias brechtianas

ELOGIO DO APRENDIZADO

aprenda o mais simples!para aqueles
cuja hora chegou
nunca é tarde demais!
aprenda o ABC;não basta,mas
aprenda!não desanime!
comece! é preciso saber tudo!
você temque assumir o comando!


aprenda, homem do asilo!
aprenda,homem da prisão!
aprenda, mulher na cozinha!
aprenda,ancião
você tem que assumir o comando!
frequente a escola,você que não tem casa!
adquira conhecimento,você que sente frio!
você que tem fome,agarre o livro:é uma arma
você tem que assumir o comando.



não se envergonhe de perguntar,camarada!
não se deixe convencer
veja com seus olhos!
o que não sabe por conta própria
não sabe.
verifique a conta
é você que vai pagar.
ponha o dedo sobre cada item
pergunte:o que é isso?
você tem que assumir o comando
*******************


AOS QUE VIRÃO DEPOIS DE NÓS

I

eu vivo num tempo sem sol

uma linguagem sem malícia é sinal de estupidez,

uma testa sem rugas é sinal de indiferença.

aquele que ri ainda não recebeu a terrível notícia.

,

que tempos são esses,quando

falar sobre árvores é quase um crime.

pois significa silenciar sobre tanta injustiça!

aquele que cruza tranquilamente a rua

já está então inacessível aos amigos

que se encontram necessitados?

é verdade:eu ainda ganho o bastante para viver.

mas acreditem: é por acaso.nada do que eu faço

me dá o direito de comer quando eu tenho fome.

por acaso eu estou sendo poupado(se a minha sorte

me deixa,estou perdido).

me em:come e bebe!fica feliz por teres o que tens!

mas como é que eu posso comer e beber,

se a comida que eu como,eu tiro de quem tem fome?

se o copo de água que eu bebo ,faz falta a quem tem sede?

mas apesar disso,eu continuo comendo e bebendo.

eu queria ser um sábio.

nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:

se manter afastado dos problemas do mundo

e sem medo passar o tempo que se tem para viver na terra;

seguir seu caminho sem violência,

pagar o mal com o bem,

não satisfazer os desejos,mas esquecê-los.

sabedoria é isso!

mas eu não consigo agir assim.

é verdade,eu vivo num tempo sem sol!

II

eu vim para a cidade no tempo da desordem,

quando a fome reinava.

eu vim para o convívio dos homens no tempo da revolta

e me revoltei ao lado deles.

assim se passou o tempo

que me foi dado viver sobre a terra.

eu comi o meu pão no meio das batalhas,

para dormir eu me deitei entre os assassinos.

fiz amor sem muita atenção

e não tive paciência com a natureza.

assim se passou o tempo

que me foi dado viver sobre a terra.

III

vocês,que vão emergir das ondas

em que nós perecemos,

pensem,

quando falarem das nossas fraquezas,

nos tempos sem sol

de que vocês tiveram a sorte de escapar.

nós existíamos através das lutas de classe,

mudando mais seguido de país do que de sapatos,desesperados,

quando só havia injustiça e não havia revolta.

nós sabemos:

o ódio contra a baixeza

também endurece os rostos!

a cólera contra a injustiça

faz a voz ficar rouca.infelizmente nós,

que queríamos preparar o terreno para a amizade,

não pudemos ser,nós mesmos,bons amigos.

mas vocês,quando chegar o tempo

em que o homem seja amigo do homem,

pensem em nós

com um pouco de compreensão.



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