DE MONDIN,B.:
CAPITALISMO OU SOCIALISMO?
O mundo atual apresenta-se dividido em dois blocos opostos:de um lado,os países governados por um regime político-econômico de tipo socialista; de outro,os países em regime capitalista.Há também os países chamados "não alinhados". Mas esta distinção não faz outra"coisa senão reforçar a contraposição mundial dos "dois blocos".
Trata-se uma oposição não somente de dois sistemas econômico-políticos,mas de duas concepções de vida das quais derivam profundas repercussões humanas e sociais. Ambas colocam-se como "opções de civilização",afirmando possuir a garantia do futuro individual e socoal do mundo.
A propaganda e a luta política confundiram e obscureceram fatos e doutrinas, até o ponto de radicalizar a convicção ideológica dos indivíduos e das massas que vivem sob os dois alinhamentos opostos.Para muitos de nossos contemporâneos,coloca-se um urgente problema da consciência;a qual dos dois sistemas é justo ser favorável?
O CAPITALISMO CLÁSSICO
"Capitalismo" indica comumente um sistema econômico.Ele está destinado a promover o próprio desenvolvimento na história sob a guia da razão,na total expansão da própria liberdade.Nesta concepção do homem exalta-se o indivíduo em relação à sociedade(individualismo) e proclama-se a sua liberdade incondicionada(liberalismo).O Estado,expressão das liberdades individuais, sustenta-se sobre a democracia representativa e sobre as garantias da Lei(estado de direito).No plano econômico, a liberdade do indivíduo(ou dos grupos) estende-se na mesma medida de suas possibilidades econômicas.A iniciativa privada do capital não são colocados limites nem de natureza legal nem de ordem social.Ocorre,então, uma "luta pelo sucesso",com base nas leis inevitáveis da economia de livre concorrência,concentração dos meios de produção e dos capitais nas mãos de um ou de poucos (trustes,oligopólios,multinacionais,etc.),exerce uma força de pressão sobre governos,partidos políticos,opinião pública,com o fim de se assegurar cobertura ideológica sobre as intrigas utilitaristas.
Este é o capitalismo clássico que nasceu na revolução industrial,em virtude da qual a máquina aplicada à produção, absorveu grande parte da mão - de -obra nas fábricas.Segundo Marx,isso teve início em 1735,com a introdução da máquina para fiação de Wyatt.Tal capitalismo funda-se sobre o princípio segundo o qual a atividade econõmica nasce do livre jogo entre "capital " e trabalho; duas forças em cujo equilíbrio não devem interferir nem o Estado nem a moral,porque aa relação econõmica já é suficiente para equilibrar seus excessos.
A crítica a esse sistema origina-se de sua insanável injustiça e de oicinadmissibilidade de um sistema que coloca as pessoas humanas(trabalhadores) à mercê de uma coisa(o capital).
As tensões sociais que se manifestaram a partir de meados do século XIX, nasceram da tomada de consciência de que o homem não pode ser escravo das leis econômicas, mas estas devem servir a seu desenvolvimento moral e social.
O NEOCAPITALISMO
Com Frederick Taylor(1856-1915) nasce nos Estados Unidos o neocapitalismo,que reconhece ao operário e ao Estado uma intervenção condicionadora da atividade econômica, não mais deixada apenas aos automatismos do mercado.Reconhecendo ao operário o direito a condições de trabalho favoráveis, o neocapitalismo supera o mesquinho conceito de exploração da mão - de-obra.
Nasce a "sociedade de consumo" cujo ideal é produzir sempre mais para tornar mais humana a vida do indivíduo, fornecendo-lhe um número sempre crescente de bens de consumo.
A crítica a esse sistema provém do fato de que o homem fica triturado na relação produtividade-consumo, relação que se configura como uma nova e mais sofisticada forma de exploração das massas:o homem da civilização de consumo vive constrangido a produzir aquilo que deverá consumir.daí um estado de insatisfação crescente ao qual se acrescenta a alienação derivada da comercialização da cultura e do esvaziamento das mentes produzido pelos meios de massa.
O SOCIALISMO MARXISTA
Karl Marx(1818-1883),fundador do socialismo científico, propõe-se a fundar uma sociedade em que seja abolida a exploração do homem pelo homem e onde a todos seja assegurada a satisfação de suas necessidades materiais e espirituais (comunismo).
Marx vê na posse privada dos meios de produção o princípio de todo o mal, não só o econõmico, mas também individual e social.Dessa privatização nasce a relação salarial pela qual o operário vende o próprio traballho por um salário sobre o qual o empresário lucra injustamente a "mais -valia",isto é,o lucro. Segundo ele,a luta de classe, isto é, a luta pela conquista da propriedade coletiva dos meios de produção por parte do proletariado explorado pelos capitalistas é um fato inelutável da história,que deve conduzir à eliminação da classe patronal.
O MARXISMO REVISIONISTA
O pensamento de Marx que foi assumido como doutrina de Estado,indiscutível como dogma,como na China, e nas outras "democracias populares",recebeu por parte de eminentes estudiosos marxistas, em especial na Europa ocidental, novas interpretações que modificaram algumas de suas teses clássicas. A tal ponto que hoje se fala abertamente de "marxismos" e de "pós -marxismo".Naturalmente, essas novas interpretações foram condenadas como heterodoxas pelos organismos culturais oficiais dos governos comunistas.
O elemento que distingue mormente o marxismo não ortodoxo ou revisionista do ortodoxo é que para este último a dialética regula com leis irrevogáveis todos os eventos da natureza e da história,enquanto que para os novos marxismos a dialética não possui leis e não diz respeito absolutamente à natureza, mas a um apenas sujeito nas suas relações com a história.Também na sociedade sob regime comunista é necessário lutar contra a desumanização e alienação das personalidades individuais.
Não se pode, portanto,crer ingênua e acriticamente, que uma simples opção capitalista ou socialista esteja em condições de eliminar automaticamente os múltiplos males, injustiças,discriminações e opressões que afligem a sociedade atual. Os males da sociedade não derivam tanto dos sistemas,quanto dos homens.
A origem da exploração social e da opressão remonta à vontade do homem de servir-se egoística e brutalmente de um outro homem.
A redenção e a liberação do homem, mais do que por estruturas econômicas,políticas e sociais mais humanas, devem passar, em primeiro lugar e principalmente,pela conversão das consciências.Sem a conversão interior de cada um, não se poderá obter o saneamento da sociedade."
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