sexta-feira, 30 de abril de 2010

ORAÇÕES

ORAÇÃO DE UMA CAMPONESA DE MADAGÁSCAR

Senhor! dono das panelas e marmitas! Não posso ser a santa que medita aos vossos pés. Não posso bordar toalhas para o vosso altar.Então,que eu seja santa aos pé do meu fogão.Que o vosso amor esquente a chama que acendi e faça calar minha vontade de gemer a minha miséria.
Eu tenho as mãos de Marta.Mas quero também ter a alma de Maria.
Quando eu lavar o chão,lave,Senhor os meus pecados.
Quando eu puser na mesa a comida,coma também,Senhor,junto conosco.É ao meu Senhor que eu sirvo,servindo minha família.



NEGRO SPIRITUAL(Autor anônimo)
I
Rola,Jordão,rola...
Rola,Jordão,rola...
Quero ir para o céu,quando morrer,
para ouvir rolar as águas do Jordão.
Ó irmãos,devíamos todos ir para lá...
Sim,meu Senhor,
eu quero estar no teu reino,
lá,
onde rolam as águas do Jordão.

II
Ninguém,
ninguém viu os trabalhos que eu já vi,
ninguém os viu, senão Jesus!
Ninguém passou as penas por que passei,
ninguém as passou as penas senão Jesus.
Glória! Aleluia!
Algumas vezes,estou por cima,
algumas vezes,estou por baixo.
Sim,meu Senhor,
algumas vezes estou mesmo rastejando no chão.
Sim, meu Senhor,
Ninguém,
ninguém viu os trabalhos que eu já vi,
ninguém os viu,senão Jesus!


ORAÇÃO PELOS POVOS SUBDESENVOLVIDOS(Padre j. lebret)

Senhor,
estavam em volta de ti cinco mil homens,
cansados e esfomeados,
e lhes deste pão e peixe.
Senhor,
há agora em torno de ti
mais de um bilhão de esfomeados e maltrapilhos,
e não sabemos como socorrê-los!

Nosso próximo mais próximo é toda a humanidade sofredora...
O Ocidente acostumou-se a viver como senhor.
É preciso que haja vilões e que haja nobres,
que haja operários e que haja patrões,
que haja subalimentados e pessoas fartas.

Senhor,
eu rezo, angustiado,por esses infelizes,
plantadores de café e cultivadores de arroz,
pelos que trabalham nas minas de cobre e de ferro,
pelos transportadores anônimos que carregam nas costas,
pelos estivadores hirsutos dos grandes portos.
Rezo,
também por aqueles que não exploramos diretamente,
pelos que morrem de fome ao lado dos animais sagrados,
pelos que ainda não inventaram o arado,
pelos que cultivam nas encostas vertiginosas
e pelos que estão imersos nas florestas alagadas...

Divertimo-nos com o seu folclore e não temos dó de sua fome.

Senhor,
fazei que não amemos somente com palavras!
Eu,Senhor,
que fiz eu para que eles se tornem mais homens?
Senhor!
despertai a consciência dos que se julgam civilizados.


FILHO PRÓDIGO(Jorge de Lima-1898-1953)
Nas engrenagens das fábricas
bolem-como vermes- os dedos decepados dos operários.
Há intestinos rotos de crianças
nos vaivéns do correame das oficinas.
A cor e a alegria das moças empregadas
dissolvem-se na alegria monótona dos teares.
O avião comeu a saudade das mães
que a distância separou dos filhos vagabundos.
Há máquinas que cegam os adolescentes
ansiosos de ver o progresso do mundo.
Um homem teve medo de enlouquecer,
perseguido pela força e pelo orgulho
das máquinas assassinas.

Cadê a luz trêmula de vela
pra alumiar o meu poema antigo?

O lirismo perdeu a sua liturgia.
As lâmpadas Osram velam funebremente a poesia.
Ah! existe uma tristeza na terra
que nem lágrimas produz
de sua esterilidade tão seca.

Eu sou um corpo distraído,
bóiam os meus olhos pelas superfícies,
mas os meus olhos correm mais perigo
do que se andassem em acrobacias contemplativas,
pulando no alto do céu, perto das estrelas...

Venho de longe,
ando há muitos séculos a pé.

Ensina-me de novo a ficar de joelhos,
que já é tarde e quero me deitar.










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