quarta-feira, 10 de março de 2010

REFLEXÕES DE JEAN-YVES LELOUP

Quero compartilhar algo,que venho lendo e tem me "aquecido o coração".

Primeiro,apresento o autor:Jean-Yves Leloup,PHD em Psicologia Transpessoal,Doutor em Teologia pela Universidade de Strasburgo,Professor no Colégio de Los Angeles,formado em terapia iniciática pelo próprio Karlfried Graf Durckhein; sacerdote dominicano e monge hesicaste,autor de diversos livros,dentre eles, L'Absurde et La Grace.Tradutor do L'Evangile de Thomas,do L'Evangile de Jean e,diretamente do grego,do Texto de Filón de Alexandria sobre os Terapeutas.Fílon de Alexandria,judeu de cultura helenista,foi contemporânea

de Cristo,é muito representativo dos movimentos espirituais de seu meio em que andam lado a lado os sincretismos mais violentos.precursor de Orígenes.O ponto central desta proposta de reflexão é a obra "Os Terapeutas", de Filon de Alexandria.

Um pouco da minha vivência das práticas cristãs de Jean-Yves Leloup:a sua missa é feita de costas,em grego, a comunhão,com cestos com pedaços de pão: cada fiel pega um pedaço e molha-o num recipiente, contendo suco de uva; e, no batismo,a cabeça do batizado é molhada com água(neste caso, num riacho,próximo a uma cachoeira).

Reflexão de Roberto Crema a respeito da exposição de Jean-Yves Leloup(de seminários gravados):

"Para Jean-Yves Leloup,o Terapeuta é um "suposto escutar".Trata-se aqui de uma escuta inclusiva que não divide o que a própria Vida uniu:o corpo,a psique e o espírito.

Uma grande tragédia contemporânea,fruto do reducionismo cienticista que,à moda clássica do "diabolos"-aquele que semeia a desunião-tudo divide e separa,é a modelagem alienada da especialização,determinante de uma visão e escuta dissociadas e minimizadas.Uma pessoa com o corpo ferido procura um psicólogo que só escuta a psique;outra,com a psique sangrando,procura um sacerdote que só escuta o Espírito;ainda outra, sofrendo com a desvinculação da essência espiritual,procura um médico que só escuta o corpo...Onde seremos escutados como o todo indissociável que somos?

Gosto de confiar que, num futuro breve e mais saudável,sem regredir ao ideal ingênuo do generalista,evoluiremos do enfoque fragmentado da especialização para o enfoque da "vocação".Na abordagem vocacional a pessoa,como uma planta,é convidada a fincar as suas raízes no solo fecundo de seus talentos particulares e a remeter o seu caule e copa em direção ao firmamento.Assim,o desenvolvimento de uma habilidade singular não nos cegará a visão do todo,seguindo o sábio preceito taoísta:o alto descansa no profundo...

Este é o resgate para o qual nos convoca Jean-Yves Leloup, sacerdote,filósofo,psicólogo e, sobretudo,poeta da sabedoria de Cristo,o Cristo que é o arquétipo soberano do Terapeuta em sua pllenitude."Uma floresta cresce silenciosamente",afirma Leloup.Que floresçam em abundância e virtude estes novos e antigos terapeutas, aliados na conspiração premente pelo reino do Ser."

De Jean-Yves Leloup:

""Todos são chamados,mas poucos respondem"Esta é uma palavra do Evangelho.

O sol brilha sobre o ouro e sobre o lixo.Quando o sol brilha sobre o ouro,o ouro lhe devolve o seu brilho.Quando o sol brilha sobre o lixo,o lixo não devolve nada.Assim se pode dizer que o dom da Graça é dado a cada Ser.Mas a questão é fazer brilhar aquilo que nos foi dado.

Desta maneira, a preocupação a propósito da reencarnação, ou sobre a vida depois da morte,torna-se menos importante.Porque a questão não é apenas o que eu serei após a minha morte,mas o que serei antes de morrer.Aqui nós encontramos o ensinamento do Buda.O Buda dizia:"Se você quer conhecer sua vida anterior,olhe o que você é agora,porque o que você é agora é o resultado de todo o seu passado.Se você quiser conhecer sua vida futura,olhe o que você é agora e trabalhe sobre o momento presente, porque o momento presente é a causa do que você será."E ele dizia:"Não se preocupe com o que está atrás,não se preocupe com o que está a frente,mas trabalhe sobre o momento presente"
Este ensinamento do Buda é muito próximo do ensinamento do Cristo,quando o Cristo diz no Evangelho:"Não se voltem para trás,não se preocupem com o amanhã,pois a cada dia basta o seu fardo"O que depende de nós não é o passado.O passado é passado.
Esta é uma coisa difícil de compreender- o passado é o passado.Nós nem sempre vivemos o luto do nosso passado.Por isto o passado é, algumas vezes, muito presente, e nos impede de saborearmos o presente.
Por outro lado,às vezes, estamos muito preocupados com o futuro,com o que vai nos acontecer,com as dificuldades que encontraremose,assim nossa energia fica dispersa entre o passado e o futuro.E precisamos desta energia para enfrentarmos o momento presente.
Eu fico muito feliz ao ver uma concordância entre o ensinamento de Cristo e o ensinamento do Buda.Porque o importante é o momento presente.Nós só podemos amar o presente.Se eu digo a alguém:"Eu te amei",quer dizer que não o amo mais.Se eu digo a alguém:"Eu te amarei,se você se tornar mais inteligente,mais sensível",é porque eu não o amo ainda.O amor é a faculdade de viver o presente.De viver,com atenção e respeito,cada instante do presente.Esta é uma missão,é uma tarefa,um trabalho,que não está reservado somente aos sábios e aos profetas. É o exercício da nossa vida quotidiana."
A Virgem Maria,segundo Leloup:
"Inicialmente,o que quer dizer a palavra Virgem? O que é a virgindade,na tradição antiga e na interpretação dos Terapeutas?
A virgindade é um estado de silêncio, é um estado de pureza e de inocência.Não é simplesmente algo físico-esta é uma interpretação mais grosseira.Para os Antigos,o importante era a interpretação espiritual e é assim que Orígenes e depois o Mestre Eckart dirão que é preciso ser virgem para se tornar mãe.O que quer dizer isto?Quer dizer que é preciso entrar num estado de silêncio,num estado de vacuidade,de total receptividade,para que o Logos seja gerado em nós.Quando se diz que Maria é virgem e mãe,quer-se dizer que é no silêncio do corpo,no silêncio do coração,no silêncio do Espírito que o Logos pode ser gerado.
É assim que se fala de uma Imaculada Conceição.O Verbo é concebido no que há de mais imaculado em nós,no que há de mais completamente silencioso.
Este é um tema que encontramos em outras religiões.Na tradição do Islã fala--se da imaculada conceição do Alcorão,dizendo que Maomé tinha um espírito virgem.A tradição diz que ele era analfabeto e foi nesta virgindade de sua inteligência que o Alcorão foi escrito.Os muçulmanos falam da imaculada conceição do Alcorão.O Logos torna-se um livro, mas não se torna um homem.Encontramos este tema da imaculada conceição no Budismo,quando seus adeptos dizem que foi no silêncio e na vacuidade que foi gerado o espírito desperto.
Podemos ajuntar,em nós,este aspecto do imaculado?Há em nós um lugar totalmente silencioso?Isto suporia que houvesse no corpo humano um lugar onde não existisse memória.De um ponto de vista genético esta questão é muito interessante,porque se trata se ir a este lugar dentro de nós mesmos,de onde nasce a vida.
Quando se diz que a vida nasce do nada,o que quer dizer este nada?Então nós nos aproximamos da experiência do aequétipo de Maria em nós mesmos.Mas vejam bem:não se pode aproximar desta realidade com palavras,com referências normais,porque aqui nós estamos numa transição entre o tempo e o não-tempo.Em tibetano é o que se chama Bardo,que é o estado entre duas consciências,entre o criado e o incriado.
É preciso encontrar,entre nós mesmos,este lugar por onde entra a vida,este lugar por onde entra a consciência,este lugar por onde entra o amor.É uma experiência de silêncio,uma experiência de vacuidade, alguma coisa de mais profundo,de mais profundo do que aquilo que se chama pecado original.Charles Perguy dizia que Maria é mais jovem que o pecado.O que quer dizer isto? Isto quer dizer que existe em nós alguma coisa de mais jovem e de mais profundo que a recusa do ser,que o esquecimento do ser.
O que chamamos de pecado original é a perda do Espírito Santo. É a perda da relação de intimidade com a fonte do nosso Ser e que Jesus chama Pai.Eu creio que se falou demais sobre o pecado original e muito pouco sobre a bem-aventurança original.A bem-aventurança original vem antes do pecado original.Assim,os Antigos viam em Maria um arquétipo da bem-aventurança original,antes que ela fosse destruída no esquecimento do Ser ou na recusa do Ser.É este local de nós mesmos que está sempre na confiança.
A questão que temos de colocar é:Existe em nós uma realidade mais profunda que a nossa recusa mais profunda que nossos medos?É preciso encontrar a confiança original.Maria é o estado de confiança original.Algumas vezes ocorreu em nós, de conhecermos algo deste estado.Quando nós não projetamos mais sobre a realidade nenhuma memória;quando nós fazemos confiança Àquele que É.Quando nós dizemos "sim" Àquele que É.
Assim,para os Antigos, Maria é o "sim" original.E este "sim" é mais profundo que todos os "nãos".Trata-se de reencontrar em nós mesmos aquilo que diz "sim" à vida ,quaisquer que sejam as formas que esta vida tomar.E vocês sabem bem que não é fácil reencontrar esta confiança. Não é fácil reencontrar este "sim".Na maior parte do tempo estamos na desconfiança,no temor, e nós temos boas razões para temer e para termedo.Quer dizer que temos muitas memórias que nos fazem medo,que nos fazem temer aquilo que a vida vai nos dar para viver.Temos então que passar por um estado de silêncio de nossas memórias,de silêncio de nossa mente, para encontrar esta confiança original.Esta atitude era o que Krishnamurti chamava de a inocência original.Trata-se agora de interrogar o Evangelho e de ver como este estado de "sim",como este estado de confiança original,se encarna na vida concreta de Maria.
Antes disso,porém,pensaremos em Maria não somente como uma personagem exterior mas como uma realidade interior.Como arquétipo desta vacuidade, desta abertura do que vive e é gerado nela minuto após minuto.E o caminho de Maria na História pode, talvez,ajudar-nos a compreender nosso próprio caminho.Pode ajudar-nos, sobretudo,a compreender a que ponto nós estamos atulhados de memória.A que ponto é difícil para nós dizer sim e ter confiança.Nós podemos rezar à Virgem Maria na História,para que possamos reencontrar esta qualidade de confiança. "

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