sexta-feira, 17 de junho de 2011

O ESPÍRITO " DOADOR DE VIDA" E A VITÓRIA SOBRE A MORTE-PAPA JOÃO PAULO II


DO L'OSSEERVATORE ROMANO Nº44(604) - 31.10.98

1."Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho único,para que todo o que n'Ele crer não pereça, mas tenha a "vida eterna"(Jo3,16). Nestas palavras do Evangelho de João o Dom da "vida eterna" representa o fim último do desígnio de amor do Pai.Esse dom consente-nos ter acesso,por graça, à inefável comunhão de amor do Pai,do Filho e do Espirito Santo: "E a vida eterna consiste nisto:
Que Te conheçam a Ti,por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo; a Quem enviaste"
A "vida eterna", que brota do Pai, é nos transmitida em plenitude por Jesus na sua Páscoa,através do dom do Espírito Santo.Ao recebê-lo,participamos na vitória definitiva que Jesus ressuscitado realizou sobre a morte. "Morte e Vida" -faz-nos proclamar a liturgia - enfrentavam-se num prodigioso duelo.O Senhor da vida estava morto; mas agora,vivo,triunfa". Neste evento decisivo da salvação,Jesus dá aos homens a "vida eterna" no Espírito Santo.

2-Assim, na "plenitude dos tempos" Cristo cumpre,para além de toda expectativa,aquela promessa de "vida eterna" que, desde a origem do mundo, tinha sido inscrita pelo Pai na criação do homem à Sua imagem e semelhança(cf.Cor1,26).
Como conta o Salmo 104, o homem experimenta que a vida no cosmo e, em particular,a sua própria vida têm o princípio no "sopro" comunicado pelo Espírito do Senhor:"Se escondes o Vosso rosto, perturbam-se; se lhes retirais o seu alento,perecem, e voltam ao pó donde saíram.Se lhe enviais o Vosso espírito,voltam à vida,e renovais a face da terra"
A comunhão com Deus, dom do seu Espírito, torna-se para o povo eleito o sempre mais penhor de uma vida, que não se limita à existência terrena,mas misteriosamente a transcende e a prolonga sem limites.
No duro período do exílio na Babilônia, o Senhor reacende a esperança do Seu povo, proclamando uma nova e definitiva aliança, que será selada por uma efusão superabundante do Espírito(cf.Ez36,24-26):"Eis que abrirei as vossas sepulturas e vos farei sair delas, ó Meu povo.Introduzirei em vós o meu espírito e vivereis".
Com estas palavras,Deus anuncia a renovação messiânica de Israel,depois dos sofrimentos do exílio.Os símbolos utilizados adaptam-se bem a evocar o caminho que a fé de Israel realiza lentamente, até intuir a verdade da ressurreição da carne,que será realizada pelo Espírito no fim dos tempos.


3-Esta verdade é consolidada na época já próxima da vinda de Jesus Cristo(cf. Dn12,2; Mc7,9-14.23.36; 12,43-45) o Qual a confirma vigorosamente,censurando aqueles que a negavam por desconhecerdes as Escrituras e o poder de Deus?(Mc12,24).Segundo Jesus de fato, a fé da ressurreição baseia-se na fé em Deus,que "não é um Deus dos mortos,mas dos vivos".
Além disso,Jesus liga a fé na ressurreição sua própria Pessoa:"Eu sou a Ressurreição e a Vida"(Jo11,25).N'Ele,com efeito,graças ao mistério da Sua morte e ressurreição, se cumpre a divina promessa do dom da "vida eterna",que implica um plena vitória sobre a morte:"Vai chegar a hora em que todos os que estão nos túmulos ouvirão a voz (do Filho):os que tiverem praticado boas obras sairão,ressuscitando para a vida..."(Jo5,28-29):"E a vontade de Meu Pai é esta,que todo aquele que vê o Filho e acredita n'Ele tenha a vida eterna; e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia"

4-Esta promessa de Cristo se realizará,portanto, misteriosamente no fim dos tempos,quando Ele retornar glorioso "para julgar os vivos e os mortos".2Tm 4,1);cf.Act10,42; 1Pd4,5).Então os nossos corpos mortais reviverão pelo poder do Espírito,que nos foi dado como" penhor
da nossa herança,enquanto esperamos a completa redenção"Ef1,14;cf.2Cor1,21-22).
Contudo,não se deve pensar que a vida para além da morte só comece com a ressurreição final.Esta,de fato, é precedida pela condição em que se encontra todo ser desde o momento da morte física. Trata-se duma fase intermédia,na qual à decomposição do corpo corresponde "a sobrevivência e a subsistência de um elemento espiritual, o qual é dotado de consciência e de vontade,de maneira tal que o "eu humano" subsista, embora lhe falte nesse ínterim o complemento do seu corpo".
Para os crentes acrescenta-se a certeza de que a sua relação vivificante com Cristo não pode ser destruída pela morte,mas mantém-se noutra vida.Com efeito,Jesus declarou:"Quem crê em Mim,ainda que esteja morto,viverá"(Jo11,25).A Igreja sempre professou esta fé e expressou-a sobretudo na oração de louvor,que dirige a Deus em comunhão com todos os Santos e na invocação a favor dos defuntos,que ainda não se purificaram plenamente.Por outro lado, a Igreja inculca o respeito pelos restos mortos de todo ser humano,quer pela dignidade da pessoa a que pertencem,quer pela honra que se deve ao corpo de todos os que,com o Batismo,se tornaram templos do Espírito Santo.A liturgia no rito das Exéquias e na veneração das relíquias dos Santos, que se desenvolveu desde os primeiros séculos, é testemunho específico disto.Aos ossos destes últimos -diz São Paulino de Nola-"jamais falta a presença do Espírito Santo, da qual provém uma graça viva aos sepulcros sagrados"(Cântico XXI,632-633).

5-O Espírito Santo aparece-nos assim como Espírito da vida, não só em todas as fases da existência terrena,mas de igual modo na fase que, depois da morte, precede a vida plena que o Senhor prometeu também para os nossos corpos mortais.Com maior razão,graças a Ele realizaremos,em Cristo, a nossa "passagem" final ao Pai.Observa São Basílio Magno:"Se alguém reflete com atenção, compreenderá que também no momento da esperada manifestação do Senhor a partir do céu, o Espírito Santo não vos faltará como alguns creem,ao contrário,Ele estará presente também no dia da revelação do Senhor,na qual julgará o mundo da justiça.Ele que é bem aventurado e o únic0 s0berano"(O Espírito Santo XVI,40).

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