sábado, 25 de junho de 2011

UM TEXTO

    
 

    


 


 


 


 

    
 


 

ENSAIO SOBRE A POSSÍVEL AÇÃO DO ENGAJAMENTO RELIGIOSO

NO PERÍODO BARROCO


 


 

O meu pensamento voa em direção a Congonhas do Campo e traz em suas asas as imagens das peças, obras de Antônio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho, o Barroco Mineiro imortalizado nelas. Os rostos compridos, os corpos alongados e as mãos voltadas para o alto,como se buscassem o céu, quiçá, Deus, refletem a fé vigente neste período da História.

A busca de Deus, neste período era marcada pelo intenso conflito vivido entre o temporal e o espiritual, entre o místico e o terreno.Buscava-se um estado de repouso ante o Deus- Todo Poderoso- o fiel se identificava com os padecimentos de Cristo e buscava marcar seu corpo com as

chagas e o sofrimentos por Ele vividos.A união íntima almejada com Deus foi através da negação do carnal, do passional no corpo, para torná-lo abrigo de Cristo; eram exibidas, socialmente, a humilhação, a vergonha, a dor e similares atitudes de fé. A quase - obsessão pelos objetos religiosos era estímulo à devoção; por toda a parte estavam livros de oração, crucifixos, assinaturas de santos, quadros religiosos:tudo isto fomentava a experiência exigida pela busca de sentido da vida.Este não era encontrado nas dimensões histórico-culturais da época em questão,a do florescimento e vigência do barroco e nas suas variadas expressões.

A Igreja investiu em criar diretores espirituais e confessores a fim de que seus fiéis alcançassem sua plenitude interior em Deus e se mantivessem dentro das regras e normas estabelecidas por ela.

A receptividade dos fiéis,aí, vinha da abertura própria,do ser humano aos símbolos através dos quais os significados da vida do Cristo se tornariam a própria sustentação da existência humana.


 

Experienciar Cristo no seu próprio corpo, em suas vidas, no seu imaginário, na esperança do que viria a ser seu amanhã era deixar que Ele e só Ele fosse o único mediador através do qual a existência humana do que cria se realizasse. Assim, pode-se aventar a possibilidade de que a partir da adesão ao absorvido do apregoado pelos representantes da Igreja a respeito de Jesus Cristo, sua vida, seus padecimentos nos passos até a sua crucifixão e morte, a idéia de Deus adquiriu o vero sentido e consistência,neste período da História.Tal adesão,pressupondo um engajamento,por mais primitivo que nos pareça hoje,implicou em obras de arte que refletem as dores vividas pelos corpos na época, os martírios auto-impostos e a busca de ascese na imitação das dores do Crucificado- a busca do céu no próprio corpo, o encontro com os anjos, o volutear das formas,ornadas com a ourivesaria, a Luz,emanada da morte na cruz, aí representada.

A intimidade de Deus com o ser humano, no período barroco se inscreve na existência humana,segundo alguns historiadores, através da mulher idealizada, como aquela que carrega uma cruz "exterior" já internalizada em sua alma.

A sexualidade no casamento era sublimada no amor-amizade, que deixou na literatura cartas trocadas entre os cônjuges, onde a razão domina o corpo,pois, tal razão é divina: mais uma vez a busca do alto. O amor no casamento era a expressão do imaginário da época, a pretensa imitação do amor demonstrada pelo crucificado no amor divino que unia as almas dos cônjuges.


 

A posição de existência humana, na época, era refletida nas artes, na cultura e imortalizada nelas, enriquecendo a arte mineira, legítima representante do Barroco no Brasil e no mundo.

A arte mostra que a fé neste período leva a um verdadeiro engajamento dos fiéis,levando a uma autêntica "forma de existência" e adequada ação na forma de vida.


 


 

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