quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A TRAVESSIA DO MAR VERMELHO...


 


 


 

SÍNTESE DOS CAPÍTULOS 2,3 E 4 DO LIVRO: TABORDA, F.O memorial da páscoa do Senhor:Ensaios litúrgico-teológicos sobre eucaristia. São Paulo :Edições Loyola,2009

Capítulo 2-A eucaristia como memorial : aclamação anamnética

O adágio lex orandi-lex credendi (resumo do axioma de Próspero de Aquitânia) convida a procurar no próprio rito da celebração eucarística que resuma quanto se pode dizer sobre o sacramento da eucaristia: tal ponto arquimediano está na aclamação anamnética que se segue na atual liturgia romana da eucaristia ao relato da instituição.

-Aclamação anamnética: espécie de sumário de toda a oração eucarística, que expressa claramente que a Eucaristia é o memorial da Páscoa do Senhor.

-Questão colocada: a aclamação é uma inovação da liturgia pós-Vaticano II ou não se levou em conta o "não se renove nada, senão segundo a tradição", de Lérins.

-Estudar-se-á:

1-a "inovação" da reforma litúrgica e a aclamação anamnética, segundo seu sentido e sua legitimidade como Lex orandi

2- sentido bíblico de memorial

3-o sentido da eucaristia como memorial

1-A "inovação" da reforma litúrgica do Vaticano II. Para entender tal reforma que é desencadeada no texto latino do Missal Romano de Paulo VI pela expressão "mistério da fé" , como reação da assembleia à ordem de iteração de Cristo dada aos discípulos na última ceia e repetida na narração da instituição explanar-se-á sobre:

a-A exclamação mysterium fidei, sua origem e sentido

b-sobre a relação entre ela e a aclamação anamnética

c-assim como,com a lei orandi.

No cânon romano do Missal de Pio V, rezavam as seguintes palavras sobre o cálice:

"Este é o cálice do meu sangue, da nova e eterna aliança- mistério da fé-que será derramado por vós e pela multidão para a remissão dos pecados."O inciso interrompe as palavras da instituição. Pergunta-se pelo sentido do inciso, uma vez que ele interrompe uma frase completa de sentido.

Entre Jungman,J.A. e Righetti,M prefere-se a opinião de Jungman:A transposição do inciso na reforma litúrgica do Vaticano II, com sua nova função de introduzir a aclamação anamnética é um indício claro à referência expressa à consagração das espécies realizadas pelas "palavras da consagração".Isto se refere às espécies consagradas pelo estender das mãos apontando para o pão e o vinho eucaristizados ou por palavras acrescentadas,por conta própria.Nas traduções para outras línguas (por exemplo,inglês,francês e alemão) não ocorre o que aconteceu em português: houve diferentes inspirações bíblicas tidas pelos tradutores.O colocado por estas traduções remete à interpretação pascal da expressão mysterium fidei.

1.2-A exclamação mysterium fidei e a aclamação anamnética:O missal Romano latino apresenta três variantes,que ao serem observadas permitem perceber vários níveis de significação na expressão "mistério da fé" que em resumo conclui: que o "mistério da fé" é o mistério pascal de Cristo e nossa participação nele pelo sacramento da eucaristia (a incorporação ao Corpo de Cristo já realizado no batismo). O mistério pascal inclui o futuro do qual também se faz memória da parusia e a participação do cosmos que se transfigurará no novo céu e nova terra.Na lex orandi também é claro, o memorial da parusia é constante na tradição.

1.3-A aclamação anamnética como lex orandi

Há critérios para que se possa classificar um uso litúrgico como lex orandi :

1-sua fundamentação escriturística

2-o uso da Igreja

3-o conteúdo da prece da Igreja.

-As fórmulas litúrgicas valem por :

.se basear na Escritura

E

.ser atestadas pela Tradição, em todas as partes.

-Para identificar algo como legítima expressão da lex orandi,a fim de ser usado como fonte da fé para indicar o cerne da eucaristia: aplique-se à aclamação anamnética das orações eucarísticas romanas os critérios de

Próspero de Aquitânia:1º critério;ter como fonte a Sagrada Escritura, de forma literal ou querigmática apostólica.O conteúdo da aclamação pertence ao conteúdo da fé: mistério pascal e a sua participação sacramental-não se pode negar a validade da aclamação anamnética como lex orandi. Ela estabelece a lex credendi que professa a eucaristia como memorial do mistério pascal de Cristo.

2-Memorial: a riqueza de um conceito bíblico.

-Melhor tradução para "anámnesis",do grego é"memorial",que ocorre nas palavras de Jesus na última ceia (ao instituir a eucaristia), em 1 Cor 11,24-25.

-"Anamnesis" é tradução do hebraico de "zikkaron"(Ex12,14)."Zikkaron" é um conceito complexo, com muitas dimensões a serem contempladas, para que se abranja sua riqueza:

1ª dimensão: o ato mesmo de "recordar-se" que a palavra memorial/ anámnesis /zikkaron evoca- no uso atual denota subjetivismo- pura nostalgia?

2ª dimensão: tocam a questão do sujeito : quem se recorda; e, dos complementos: a quem se lembra o quê?- uma impressão de antropomorfismo crasso?

3ª dimensão: diz respeito ao tempo: o que é lembrado: o passado. "Memória se tem do que já foi "

4ª dimensão; efeito- o que acontece quando nos lembramos de algo? "Pode haver um "recordar-se" eficaz que mude algo em nós ou até nos transforme?

Porém, quando Jesus coloca o "Fazei isto como meu memorial", ele o faz no seu contexto, no horizonte veterotestamentário e judaico: volte-se às raízes bíblicas de memorial, anámnesis/zikkaron.

No Antigo Testamento (A.T.), "Zakar" não é uma ação subjetiva retrospectiva. "Lembrar" é um verbo performativo, expressa uma ação com consequências para o presente e o futuro, i.é, uma ação que irrompe no presente abrindo o futuro. Este verbo num contexto religioso de culto ou de oração, reforça a ação performativa, logo o passado recordado se torna atuante, cheio de eficácia de salvação.

O "recordar-se" de alguém, por parte de Deus é algo que pertence à ordem ontológica: é existir diante de Deus e pela ação de Deus.

Por parte de Deus, "zakar" é uma ação criadora em favor do seu povo. O "lembra-se" é eficaz, produz efeito (a quarta dimensão acima descrita).

Com isto se toca na segunda dimensão do "recordar-se" acima mencionada: o sujeito da ação pode ser Deus ou o ser humano, mas o complemento, quando em contexto religioso, é a aliança, ação salvífica de Deus e a resposta humana positiva ou negativa.

Com o conceito de "zikkaron", à ideia de "lembrar-se" se acrescenta a de sinal, que pode ser tanto para Deus quanto para o ser humano e, portanto, ter a finalidade de pedir a intervenção salvífica de Deus e provocar o ser humano a uma devida resposta à ação de Deus que atuou, continua a atuar no presente e atuará sempre.

"Lembrar" traz a intencionalidade com relação ao futuro, levando em consideração a terceira dimensão acima descrita. Lançar a Deus o clamor, que recorda suas promessas, desperta a esperança; elas se hão de cumprir. Dizer ao homem que se "lembre" das ações de Deus na história incita à obediência, à observância dos mandamentos e, consequentemente, acolher a salvação de Deus.

A anamnese é um "lembrar-se" da origem que permanece decisiva para o presente e para o futuro: o objetivo de lembrar o passado e interpretar o presente e possibilitar o futuro: à anamnese é própria uma força atualizante que revela que a ação de Deus se mantém no presente.Recordar é uma mediação entre a ação de Deus do passado e a significação permanente dessa mesma ação, cujas raízes e origens estão no passado que se dá tanto pela pregação da Palavra como pela celebração litúrgica e pela vivência do seguimento de Cristo.

A complexidade de dimensões presentes nos termos "memorial/anámnesis/zikkaron, "lembrar-se" mantém- -se também no Novo Testamento(NT).Depois da ressurreição é que se manifesta a eficácia da "lembrança dos discípulos. "Recordar-se" é verdadeiro conhecimento, porque resulta da ação do Espírito(cf. Jo 14,26).O Espírito Santo confirma,consolida, esclarece a obra de Jesus e assim traz consigo uma recordação definitiva, conclusiva. É esse "recordar-se" que se dá pela ação do Espírito Santo na transmissão da Palavra, na conformação cristã da existência por meio do amor ao necessitado, na celebração da liturgia:trata-se de uma vivificação pela Palavra numa vivência celebrada na liturgia, sob ação do Espírito de Cristo.Essa afirmação do Espírito Santo é fonte e penhor do realismo salvífico que nela se opera.Com a inclusão do Espírito Santo, pode-se afirmar a eficácia do memorial (longe da "nuda commemoratio" condenada pelo Concílio de Trento como insuficiente para explicar a Eucaristia).O Espírito de Cristo atuante é capaz de tornar perene o sacrifício de Cristo e fazer de nós participantes de seu mistério salvífico.

Em relação à temporalidade do memorial, o NT traz algo de novo: a memória é assim também "memória do futuro": na ressurreição de Jesus os discípulos apalparam com as mãos o futuro que nos cabe, os tempos escatológicos chegaram.

A interpretação da ordem de iteração como "Fazei isto para manter viva a minha memória" estreita e deturpa o sentido de memorial, porque: 1- se entende "memória", no sentido psicológico intimista; 2- dependeria da ação humana o manter viva a lembrança do Senhor e sua ação salvífica, tornando-se obra ao invés de mistério, caindo então, no pelagianismo.

Em outras palavras: O memorial é dom- é a ação de Deus que nos convoca, para na força do Espírito Santo, realizarmos o sinal que é memorial (zikkaron) do mistério de Cristo. O sinal é o gesto de tomar pão e vinho, conforme a ordem de Jesus- Ele se torna memorial quando sobre eles pronunciamos a ação de graças pela obra salvífica consumada por Cristo. É pura graça, porque é obediência à ordem do Senhor e é Ele quem age no Espírito Santo,para tornar-nos "contemporâneos" do Calvário e do sepulcro do Ressuscitado, comungando do pão que faz de nós corpo de Cristo a ser entregue pelos demais.

A noção de "memorial" se aprofunda no sentido do mistério proclamado e aclamado; que se realiza e presentifica na eucaristia; a partir da Bíblia.

3-O memorial eucarístico

A eucaristia, como a páscoa cristã, são iluminadas pelas raízes bíblicas e judaicas de "memorial" e seu uso no contexto da instituição da ceia da pascal judaica.

3.1- O memorial e a compreensão mistérico-sacramental da eucaristia

-A tradição talmúdica atribuída ao Rabi Gamaliel resume de forma lapidar o que todo judeu piedoso vive ao comer, anualmente: o cordeiro pascal, os pães ázimos e a erva amarga.

--A libertação do Egito é o evento fundante: nós hoje saímos do Egito, a nós, o Altíssimo redimiu.

--Outro momento do ritual de Páscoa confirma a perspectiva anterior: a alegoria dos quatro filhos, onde o segundo filho é classificado como malvado. Ele se exclui da coletividade, renega a raiz de sua fé- mesmo que tivesse estado na saída do Egito, ele não teria sido remido.

O primeiro ponto, que é preciso ter presente para compreender a eucaristia a partir da aclamação anamnética é estar implicado no mistério pascal, ao fazer memória dele.

O segundo ponto a observar na cláusula de Gamaliel é: "Os elementos essenciais que não podem faltar na ceia pascal judaica são os sinais sacramentais, que reportam figurativamente os participantes da ceia ao evento pascal da passagem do Mar Vermelho, evento único e irrepetível. Os comensais de hoje são transportados por estes sinais à passagem do mar. Sob o aspecto salvífico, no plano mistérico-sacramental, não há diferença entre o cordeiro, o ázimo e a erva amarga daquela última ceia do Egito e os mesmos elementos da Páscoa atual. "É por causa do cordeiro, do ázimo e da erva amarga que o Senhor nos remiu".Só compreendemos o gesto de Jesus de partir o pão e distribuir o cálice na perspectiva mistérico-sacramental herdada do judaísmo.

A transposição da mistagogia judaica para a eucaristia permite captar melhor o realismo da eucaristia. Podemos nós, também dizer: Este pão que agora partimos é aquele que Jesus partiu significando, profeticamente, seu corpo entregue por nós; este vinho que está aqui no cálice é aquele vinho que Jesus bebeu na última ceia, anunciando seu sangue derramado.

3.2-A eucaristia, sacrifício memorial

Cristo é o fim e a realização de todo sacerdócio, e sua vida, culminando na cruz e na ressurreição, é o fim é a realização de todo sacrifício.Por sua vida, realizou, definitivamente, escatologicamente, a pretensão de todo ato sacrificial: apresentar-nos a Deus e sermos acolhidos com um olhar benévolo.

Apesar da unicidade e suficiência do sacrifício de Cristo, a eucaristia pode ser e é "sacrifício", no sentido verdadeiro e próprio. A eucaristia é todo o Calvário e nada mais que o Calvário. Para entender o porquê de ser sacrifício: porque é memorial, é sacrifício; porque sacramento do único sacrifício. Isto é expresso no "Documento de Lima", do Conselho Mundial de Igrejas (1982): "A eucaristia é o memorial de Cristo crucificado e ressuscitado, i.é, o sinal vivo e eficaz do seu sacrifício, cumprido uma vez por todas sobre a cruz, e continuamente, agindo em favor de toda a humanidade" e recomenda "todas as Igrejas poderiam rever as velhas controvérsias a propósito da noção de sacrifício ..."

Deus nos convoca para celebrarmos o memorial e assim, nos leva a "manter viva" a memória de Jesus. O memorial é ação do Espírito Santo, em sacramento, em mistério, em semelhança, segundo a dinâmica própria da ação sacramental.

3.3. No memorial vivemos o "tempo sacramental" ou "tempo redimido"

-"Tempo sacramental": é evocar que é em sacramento, em mistério, que pelas palavras de Cristo e pela invocação do Espírito Santo, nos tornarmos, aqui e agora, contemporâneos do evento do Calvário e da experiência feita pelas mulheres na manhã do domingo,junto à tumba do ressuscitado.

-Para Massimo Pampaloni: "tempo redimido" é o tempo sacramental como uma irrupção de Deus, no tempo cronológico.

O tempo litúrgico é tempo redimido, pois não vive a fragmentação do agora e não depois ou do aqui e não lá.

Temporalidade é a multiplicidade em que se funda o tempo. Para Aristóteles, a temporalidade se fundamenta na espacialidade. Diferente é o conceito de eternidade:pertence ao não material e é um conceito que termina sempre diante do mistério. A eternidade opõe-se ao tempo como a perenidade se opõe ao fluxo. Para Boécio: "A eternidade é a posse simultânea e perfeita de uma vida interminável", o seu experimentar ultrapassa os limites de nossa experiência. A eternidade é simultaneidade de tudo, diferente de tempo que é sucessão de acontecimentos.

Ocorre na celebração eucarística e em toda celebração sacramental o encontro entre tempo e eternidade, encontro somente na fé. Tornamo-nos presentes ao passado e ao futuro da intervenção salvífica de Deus, na história humana:pela celebração litúrgica, somos contemporâneos desse acontecimento histórico.Nós nos fazemos, a cada dia; só no momento da morte, quando se entra na definitividade,poder-se-á dizer quem somos verdadeiramente, pois só Cristo entrou no verdadeiro Santo dos Santos, o céu, não por um ato ritual, mas, por um ato histórico: sua morte como condenado.Seu sacrifício é ele próprio, sua vida, sua história.

Houve quem postulasse a admissão de um "sacrifício celeste"(um abuso de analogia, segundo Giraudo). O "sacrifício celeste" pode ser entendido como o mesmo sacrifício do Calvário perenizado na glória, mediando na celebração a nossa contemporaneidade do sacrifício na cruz, que torna o Cristo presente, Nele o tempo se eternizou.

Ao comungar, é se transformado no Corpo da igreja, há a pertença à realidade definitiva, ao eschaton, à dimensão última, porém na posse do próprio livre arbítrio.

Toda oração eucarística é consecratória, em unidade e totalidade, é a epifania da eternidade no tempo.

Vivemos "nestes tempos que são últimos" e a eucaristia é o momento especialmente denso de experimentarmos com realismo a ultimidade, deste modo, ela nos remete à história onde cabe, por sermos o Corpo (eclesial de Cristo), realizar a ultimidade, concretizar já agora, nas condições do tempo, os novos céus e a nova terra, onde, incipientemente, no agora, habite a justiça.


 


 


 

CAP.3-LITURGIA EUCARÍSTICA I. A ANÁFORA OU ORAÇÃO EUCARÍSTICA

O memorial da Páscoa do Senhor se realiza ao interno de uma oração, que ,desde sempre, a Igreja celebrou a eucaristia: uma Todá Cristã.É importante nos remeter ao AT e ao contexto vital da aliança;pois através das raízes veterotestamentárias, do conjunto da economia da Antiga Aliança e na forma literária de expressar o discurso divino ou a resposta humana na oração de aliança; chega-se ao estudo da estrutura da anáfora.

1-As raízes veterotestamentárias da anáfora cristã:

1.1-O memorial da Páscoa do Senhor à luz da Páscoa judaica

No centro está o centro fundador: a passagem do mar Vermelho.No evento da libertação, a última ceia no Egito é prefiguração. Na casa, marcada pelo sangue do cordeiro, onde se celebrava a última ceia antes da partida, já reinava a liberdade: estavam fora da soberania do Faraó. Tal ceia é o momento instituidor que remete ao futuro; a páscoa das gerações (segundo os Mestres da Sinagoga): à celebração anual da Páscoa judaica. É no contexto da ceia pascal judaica que os Evangelhos sinóticos localizam a última ceia de Jesus, no cenáculo. Do mesmo modo, o evento fundador do NT,a passagem de Jesus pelo mar da morte, teve seu anúncio profético no gesto de Jesus ao partir o pão e distribuir o cálice, que se identificavam com seu corpo e sangue, entregues em prol da salvação humana. Através da iteração: "Fazei isto em meu memorial", Jesus remeteu para futuro longínquo "a páscoa das gerações cristãs", e a "Igreja das Gerações"),parte do evento fundador.

-Atualização, significa: quando celebramos a eucaristia, no sinal do pão e do vinho, comemos o verdadeiro Cordeiro Pascal, Jesus Cristo.

A celebração do memorial obedece à ordem de iteração de Jesus na última ceia no cenáculo."Fazei isto em meu memorial", ordem recordada em cada celebração da eucaristia.

1.2-A estrutura literário-teológica dos textos de aliança e da oração de aliança (Todá)

As anáforas podem ser classificadas dentro do gênero literário litúrgico de "prece solene" .Em sua forma literária, essas preces derivam da Todá ou confissão. –Confissão: nela se reconhecem os próprios pecados e a ação de YHWH.No caso das "preces solenes" cristãs: o objetivo da confissão é a ação salvífica de Deus que culmina na auto-comunicação por Cristo no Espírito Santo.As "preces solenes" podem, também, ser chamadas de "orações de aliança", pois correspondem à dinâmica teológica da relação de aliança entre Deus e a humanidade.

A aliança se expressa literalmente num gênero em que:

1º-se recorda o benefício recebido= secção anamnética, a filantropia de Deus.

2º-seguida, das obrigações que temos com Ele (em linguagem jurídica= secção injuntiva=exigências legais que

Contraímos em decorrência dos benefícios de Deus.

O discurso de aliança é o procedimento de aliança, composto de uma prótase, no indicativo e uma apódose, no imperativo(díptico estrutural do discurso de aliança).A oração feita com base na aliança( súplica do povo a Deus, conforme a experiência anterior com a aliança) consiste em duas partes: uma prótase, no indicativo ( a secção anamnético-celebrativa da oração) e uma apódose suplicante( a secção epiclética). A primeira secção põe as premissas lógicas e teológicas da súplica que será dirigida a Deus na 2ª parte: a epiclese, que significa " chamado sobre" o povo, que clama (secção anamnético – celebrativa ).

- A articulação entre as duas partes: expressa pela partícula lógico-temporal "e agora" e outras semelhantes (por isso, portanto) que indicam a estruturação da prece.


 

O nome deste tipo de oração é em hebraico=Todá- verbo correspondente: yadáh

Que foi traduzido, ao grego, pelo substantivo eucharistia e pelo verbo eucharistem

Estas foram traduzidas, ao latim, como gratias agere, o nosso "dar graças", render graças.

-Deve-se conservar a expressão ligada por essa cadeia de traduções.

-A oração de aliança (Todá) pode-se apresentar sob 3 modalidades:

--a 1ª- é a dinâmica deprecativa simples: consiste num discurso a Deus,com palavras nossas

--a 2ª-dinâmica deprecativa embolística, ou seja, é um discurso a Deus com palavras nossas e de Deus.

-As duas partes estão relacionadas, em hebraico, por uma partícula enclítico-precativa, que poderia ser traduzida por "pedimos-te", "portanto".

-O embolismo (que significa enxerto, que se faz numa árvore) é a citação formal das palavras de Deus; é um enxerto que o orante insere em seu formulário de oração por razões teológicas, para fundamentar mais explicitamente o pedido a ser feito:

--a dinâmica embolística fornece ao pedido uma ulterior fundamentação teológica: por se tratar de uma palavra de Deus, ela garante, de antemão, que a oração será ouvida. Deus, ao ouvir da boca do orante suas próprias palavras, sente-se como obrigado a escutar a prece.

--a 3ª- é a dinâmica semiembolística: a referência indireta às palavras de Deus. O semiembolismo é uma formulação evocativa do lugar teológico escriturístico.

2-A anáfora,oração de aliança:

- a eucaristia se realiza por uma oração que conjuga a súplica com a ação de graças- a sucessão das duas articulações maiores dessa oração é entendida como "ação de graças e súplica".

-A eucaristia se faz com "súplicas e ações de graças", ou melhor, em ordem direta: ações de graça e súplicas", súplicas baseadas na ação de graças.

-Nas anáforas, também, pode haver um embolismo, um enxerto: citação literal do lugar teológico-escriturístico, em que nos baseamos para o pedido essencial de toda eucaristia: que Deus envie Seu Espírito para transformar os dons do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Cristo, a fim de que nós, ao comungar desses dons, nos tornemos no Corpo Eclesial de Cristo= é uma injunção suplicante , uma exigência suplicante a Deus com base na ordem de iteração dada por Jesus, na última ceia. A narração da instituição se dirige a Deus para "convencê-Lo" de que temos "direito" de celebrar a eucaristia, já que ele quis estabelecer aliança conosco por meio de Jesus Cristo, no Espírito Santo.

-O embolismo, enxerto da Palavra de Deus, para dar mais força ao pedido pode estar:

--na secção anamnética- celebrativa, como,

--na secção epiclética.

-A liturgia romana não é a única.


 


 

-A anáfora de dinâmica anamnética: o presidente, em nome da assembleia reunida, louva a Deus por aquilo que ele fez na história da salvação

E

-no meio desta enumeração: acrescenta como enxerto, a narração da instituição.

-Pronunciar a epiclese ou fazer o pedido: fundamentado em toda a obra de Deus, que culmina na entrega de Cristo na cruz e em sua ressurreição.

- Orações eucarísticas de dinâmica epiclética: aquelas em que o embolismo está na secção epiclética (as orações romanas seguem este modelo).

-O relato da instituição: está inserido no meio da súplica que se faz para que Deus envie seu Espírito, que transforme os dons do pão e do vinho no corpo e no sangue de Cristo: para que ao comungarmos, nos trasformemos no corpo eclesial de Cristo.

2.1-A estrutura literária das orações eucarísticas romanas: Segundo Giraudo:

-é preciso ter presente que a oração eucarística é um todo, uma unidade que começa na saudação inicial-"O Senhor esteja convosco" e se prolonga até o Amém final, depois da doxologia "Por Cristo, com Cristo, em Cristo".

-Existe uma continuidade do prefácio – antes dele: do diálogo invitatório- até o fim.

-Por diversas razões, ocorrem "confusões nas cabeças" quanto à ordem das partes do missal romano.

-Toda anáfora consta de 9 elementos que se sucedem e encadeiam, com lógica própria nas diversas tradições litúrgicas,entre o diálogo invitatório e o Amém final.São eles, na ordem seguida nas anáforas romanas:

*Prefácio

*Santo

*(pós-santo)

*Epiclese sobre os dons

*Relato Institucional

*Anamnese

*Epiclese sobre os comungantes

*Intercessões

*Doxologia

-Os 9 elementos se distribuem nas duas secções da oração eucarística: mas suas sequência e distribuição, variam segundo a família litúrgica.

-Há anomalias ou exceções que confirmam a regra:

--a anáfora da Tradição Apostólica:não tem intercessões.

--a anáfora de Addai e Mari não contém o relato

--o Canon romano desconhece o pós-santo

2.2-As orações eucarísticas romanas vistas a partir de núcleos geradores:

-Na oração eucarística, partindo da lógica literária-teológica da Todá, encontram-se dois núcleos geradores ou pólos que dão origem ao todo: anamnese e epiclese.

--Numa metáfora geométrica poderíamos ver: Anamese e epiclese como 2 pólos de 1 elipse que é gerada por estes 2 polos e só pode ser compreendido na unidade e referência mútua dos dois polos.

2.2.1-O primeiro núcleo gerador: a dupla epiclese

NA ORAÇÃO EUCARISTICA OU HÁ ANAMNESE E EPICLESE E SE CONSTITUI UMA ANÁFORA OU NÃO HÁ ORAÇÃO EUCARÍSTICA.

-Na anáfora romana: o 4º elemento na sua estrutura é a epiclese sobre os dons: pedido para que Deus, pelo envio do Espírito Santo, transforme os dons do pão e do vinho, que trouxemos e apresentamos, no corpo e sangue de Cristo:

--aí é invocado o Espírito Santo, porque é no Espírito que se realiza a liturgia eucarística e qualquer outro sacramento, é no Espírito que se constrói o Corpo de Cristo, a igreja.

-Como uma das causas do Espírito na teologia ocidental, o cânon romano não se refere ao Espírito Santo.

-Na reforma litúrgica do Vaticano II, a Igreja redescobre que o Espírito Santo é fundamental na Eucaristia – as novas orações eucarísticas passam a usar uma epiclese, suplicando o Espírito Santo.

-Epiclese sobre os Comungantes: a súplica pelo Espírito Santo, sobre o pão e o vinho (na anáfora romana é separada da súplica pelo Espírito Santo); sobre os comungantes não pode ser considerada isoladamente,chega a termo com a súplica pelo Espírito Santo sobre a assembléia reunida para receber o corpo e sangue de Cristo.

-Na liturgia romana: a dupla epiclese,por assim dizer, se fende para acolher em seu interior o relato institucional com a anamnese.

-Na Anáfora alexandrina, de Basílio, ao reduzir o texto ao seu esquema básico, resulta: "Envia o teu Espírito sobre nós e sobre os dons apresentados para que transforme os dons no corpo sacramental, a fim de que, comungando, nós sejamos transformados no corpo eclesial".- aqui, a unidade que existe entre a transformação dos dons e a nossa transformação é feita através de um quiasmo: figura literária de elementos entrecruzados.

-A Eucaristia não é necessária para criar presença de Cristo: Ele já está presente:

--no pobre e necessitado

--no anúncio do evangelho

--nos pastores em sua função de governar a Igreja

--em nossos corações,

Onde habita pela fé.

-As 2 transformações: 1ª-a do pão e do vinho no corpo e sangue de Cristo

2ª-a da assembleia, no corpo eclesial de Cristo,

Estão intimamente unidas.

--A transubstanciação:significa que a substância do pão e do vinho é substituída pela substância do corpo e sangue de Cristo (mesmo que os sentidos nos digam o contrário).

-Antes de completar a súplica pelo Espírito Santo, recordamos aquilo que nos dá direito a fazer esta súplica: o memorial que oferecemos ao Pai, segundo o mandato de Jesus.

2.2.2-O outro núcleo gerador; o bloco relato-anamnese:

-Este núcleo gerador é tratado depois do anterior:

--( não se pode fazê-lo simultaneamente)

--(isto não afirma uma hierarquia entre os dois)

--O relato da instituição e anamnese constituem um bloco unitário: é como se a anamnese acolhesse em seu seio o relato institucional.

-O relato institucional: as "palavras de consagração" reduzidas ao mínimo denominador comum- a função da narração da instituição não é realizar a mágica da transubstanciação, mas dirigindo-se ao Pai, recordar-lhe a aliança, por cuja força fazemos a súplica pelo Espírito Santo.

-Depois do relato e conectado com a ordem de interação da assembleia reunida: fazer o memorial

--Se compõe de 2 elementos constitutivos:

---a declaração anamnética

--- a oferta do memorial

-A anamnese inclui,PORTANTO: O VERDADEIRO OFERTÓRIO DA MISSA:o que oferecemos ao Pai é o memorial da Páscoa de Cristo, de toda sua existência pascal,no pão e no vinho eucaristizados.

-Aclamação anamnética ou aclamação memorial:

--o Conc. Vaticano II a introduziu entre o relato institucional e o memorial

--ela já permitiu explicar, anteriormente, o sentido da eucaristia como memorial da Páscoa

-A segunda epiclese, sobre os comungantes: segue-se na anáfora romana, após o memorial e seu oferecimento a Deus, pedindo pelo Espírito Santo, para que ao comungar a assembléia reunida seja transformada no corpo eclesial de Cristo.

-Produz-se, assim, outra metáfora geométrica: um círculo concêntrico com relato e anamnese em seu centro, rodeados pela dupla epiclese.

2.2.3-Ampliação do segundo núcleo gerador: a secção anamnética-celebrativa

-Intecessões: continuação e ampliação da epiclese sobre os comungantes, na estrutura da oração eucarística- voltam a olhar aos muitos outros segmentos do corpo de Cristo dispersos pelo mundo

-A epiclese: trata de reuni-los na mesma oração, pedindo que, também, eles estejam unidos no único corpo de     Cristo.

-Em geral, as orações eucarísticas apresentam intercessões:

-- pela hierarquia

--pelos falecidos

-- pelos santos

No Missal Romano: as intervenções da assembleia, após as alterações do C.Vat.II, foram transformadas em preces dos fiéis- repetem "Lembrai-vos, ó Pai, dos vossos filhos"

2.2.4-Ampliação do segundo núcleo gerador: a secção anamnética-celebrativa

-Secção anamnética-celebrativa:

--ampliação da anamnese, propriamente dita e vice-versa

--anamnese como resumo de toda a secção anamnética –celebrativa

-Com a liturgia romana:

*Prefácio:

-a 1ª parte de ação de graças anafórica

-na anáfora: o prefácio é parte integrante, indispensável,nele se expressa o motivo do louvor

-Prefácio é uma oração proclamada "diante de Deus" e "diante da assembléia" reunida e em seu nome, para a glorificação de Deus

-A regra na liturgia romana é um prefácio móvel,

--separado do resto da anáfora

E

--acentua o sentido de cada tempo litúrgico e de cada festa

-As 3 partes do prefácio:

--convite ao louvor

--o motivo do louvor

--a transição para o canto do Santo

1-Convite ao louvor:

-o elemento principal : os verbos que expressam a glorificação de Deus( a liturgia romana é sóbria no uso destes verbos): dar graças, louvar, cantar hinos, glorificar, confessar, bendizer

2-Parte central do prefácio: expressa a razão:

  1. que leva a assembleia reunida a entoar hinos a Deus (na liturgia romana esta parte é especialmente importante
  2. especial que reúne a comunidade naquela data

3-O prefácio conclui conduzindo para o canto do Santo: - nesta transição transparece o sujeito que eleva seu louvor: a assembleia reunida, em comunhão com toda a Igreja da terra e dos bem-aventurados, santos e anjos, cujo louvor se entoará,em seguida.

-O prefácio culmina na introdução ao HINO DO SANTO: O Santo é o canto dos anjos- que deveria ser cantado

-Transição do prefácio ao Santo: expressa a "Teologia do Santo"

--Tomamos consciência de algo fundamental na celebração na eucaristia: a união das duas assembleias: a do céu e a da terra – a dimensão escatológica da eucaristia.Neste momento, ambas estão em atitude de adoração, ação de graças, louvor. Para expressar essa união: a Igreja emprega canto que reproduz dois textos bíblicos- canto composto de 2 partes:

A 1ª- proclama a santidade de Deus (Is 6,3)

A 2ª- "Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!( a palavra se torna uma homenagem a Deus, que se digna aproximar –se de seu Filho Jesus)

-Pós-Santo: -o louvor que se segue ao canto do Santo, iniciando com palavras como:"Na verdade,vós sois santos"

-o pós-santo continua o prefácio, falando da queda da aliança e suas renovações e da cristologia histórica( encarnação, vida,morte,ressurreição e ascensão de Jesus, culminando com Pentecostes).

2.2.5-Introdução e final:

-Diálogo invitatório:

--diálogo que convida a assembleia a iniciar a ação de graças a Deus

--é o começo das orações eucarísticas

--1º membro do diálogo: uma saudação ( o presidente deseja que o Senhor esteja presente;"O Senhor esteja convosco, com a resposta:"E com teu espírito; nos países de língua portuguesa:"Ele está no meio de nós"(como uma profissão de fé).

--2º momento: ---com a união que a presença do Senhor suscita prossegue-se com "Corações ao alto.

O nosso coração está em Deus" ( o coração está orientado a Deus,no ato supremo de culto,

Quando em união com Cristo.

--3º elemento do diálogo invitatório; o convite à ação de graças: "Demos graças ao Senhor nosso Deus" (dar graças é professar as maravilhas que Deus faz por nós na história da salvação e confessar nossa infidelidade)

Resposta: "É nosso dever e nossa salvação( é" nosso dever" porque pelo batismo e crisma Deus nos fez dignos de pôr-nos em sua presença e realizar o serviço divino de celebrar a liturgia).Somos salvos por acolher os benefícios divinos e reconhecê-los.

-Com essas disposições de espírito:pode-se iniciar o cerne da celebração dos Santos Mistérios com a oração eucarística:

-A Doxologia epiclética: porque pertence à secção epiclética da anáfora.Tem caráter de louvor, retorna à secção anamnético-celebrativa e dá o fecho final ao todo da anáfora com o louvor, a confissão agradecida e reconhecida.

-Critica-se uma interrupção entre a última intercessão e a doxologia

-A doxologia atrai o Amém final da Assembleia:Ele é fundamental na oração eucarística.

-O Amém é a assinatura da assembleia à oração dita por aquele que a preside: ela convalida a oração. A comunidade, no final, confirma-a, com o amém. "Estamos de acordo. Assim é. Assim seja".

3-Os gestos litúrgicos na recitação da anáfora romana

-O cânon romano conserva gestos específicos seus não semelhantes nas novas orações eucarísticas pós-Vaticano II.

-A posição básica do presidente e de toda assembleia: é o estar de pé. Estar de pé significa :1-participar na ressurreição de Cristo; 2-o sacerdote oferece nas religiões o sacrifício

-Posição de orante(uma figura do Crucificado)1-em pé, 2-com as mãos erguidas,o bispo ou o presbítero: é expressão de que a oração se dirige àquele que está nos céus.

-Imposição das mãos sobre as oferendas:

--Sobre as oferendas: o presidente impõe as mãos (com bênção e invocação do Espírito Santo sobre os dons) e faz o sinal da cruz (sacrifício da cruz).

Obs.: O sinal da cruz que o presidente da celebração faz sobre si próprio, na epiclese sobre os comungantes: gesto de todas as graças e bênçãos do céu.

- Inclinação profunda (na epiclese sobre os comungantes no cânon romano): reverência diante do mistério da atuação do Espírito)

-Bater no peito: - gesto particular do cânon romano às palavras: "E a todos nós pecadores"= expressão penitencial de reconhecimento da inclusão do bispo ou presbítero presidente no número de pecadores.

-Elevação da hóstia e do cálice: para dramatizar o gesto de Jesus tomar o pão, o padre elevava a hóstia

-Elevação do cálice com o vinho: A elevação tem a finalidade de venerar o Santíssimo Sacramento – fé na presença real de Cristo

-Na hora da elevação:estando ajoelhados, deve-se (a)baixar a cabeça. Alguns padres fazem uma genuflexão ou uma simples inclinação.

Sendo a anáfora, o centro da liturgia eucarística e toda a eucaristia – não pode ser isolado dos ritos que a preparam e dela decorrem: - a preparação das ofertas

E

- o rito da comunhão.

Cap4-Liturgia eucarística II – Rito de comunhão e preparação das ofertas

Jesus "tomou o pão, deu graças e o partiu e deu":

-Cada uma dessas ações corresponde a um momento da liturgia eucarística: 1-"tomou o pão":preparação das oferendas; 2-"deu graças";oração eucarística; 3-"o partiu e deu": rito de comunhão.

-Tendo o ministro (bispo ou presbítero) como instrumento, Cristo mesmo preside e realiza nossa eucaristia. É o próprio Cristo que toma o pão, dá graças ao Pai e o distribui aos fiéis.

1-Rito da comunhão:

Na comunhão, se realiza o que foi pedido: comungando do "corpo sacramental" de Cristo, tornamo-nos seu "corpo eclesial" .Cristo se dá, efetivamente, a seus irmãos e irmãs, atrai-os, nutre-os e os introduz na vida trinitária. A partir da comunhão eucarística é que a Igreja se constrói em profundidade.

-Subdivisão do rito da comunhão:

1-Procissão de comunhão: distribuir o pão e o vinho eucaristizados

1.1-pré-condição para poder repartir o pão

1.2-parti-lo

1.3-outros elementos que completam o rito da comunhão

1.1-A procissão da comunhão, cuja meta é o altar,onde se recebe os dons eucaristizados ( o altar é o símbolo de Cristo do Sl118,22: "pedra rejeitada pelos construtores que se tornou pedra angular").Tal procissão significa: povo de Deus a caminho, que no seu peregrinar precisa do "pão supersubstancial".

--No rito romano há 3 momentos procissionais (procissão), concluído por uma oração presidencial:

a- rito da entrada, com a procissão de entrada e coleta do dia

b- rito de preparação das oferendas, com a procissão dos dons e a oração sobre as oblatas

c- o rito de comunhão com a procissão correspondente e a oração pós – comunhão

-Canto da comunhão: canto responsorial ou aleluiático

-Oração depois da comunhão: encerramento do rito de comunhão

--como toda oração presidencial, a oração depois da comunhão é pronunciada de pé (também pela assembleia) – oração dita pelo ministro como seu discurso oracional, exerce seu sacerdócio, diante de Deus, oferece o sacrifício de louvor. ( É de pé a posição do sacerdote no sacrificar)

--Na liturgia romana: mostrar o pão eucaristizado ( e o vinho) é um rito acessório.

-A prática do presidente com os copresidentes de comungarem antes do povo provém do costume judaico: o pai de família parte o pão e antes de distribuí-lo, come ele próprio uma porção. Era uma questão de educação.

-A forma tradicional de receber a comunhão é recebê-la na mão, "como num trono" ( expressão simbólica de receber a graça). A comunhão na boca é de origem relativamente recente.

1.2-O partir do pão

-Precede a procissão: o rito da fração do pão com dupla finalidade:

1-uma finalidade prática:para que todos comam o pão é necessário parti-lo. O significado vem da tradição judaica: ao pai de família cabe repartir o alimento que traz para casa,como fruto do seu trabalho.

2-No cristianismo, um sentido mais profundo: Partir o pão possibilita a participação de todos no único pão: a unidade da Igreja (Paulo).

-Sentido cristológico: o pão e o Corpo de Cristo: ele é rompido como a Vida de Cristo foi despedaçado, em favor da multidão. Hoje: a "hóstia" grande é partida em duas, das quais se destaca um pedacinho menor que é lançado no cálice, como fermento.

-"Verdade do gesto":(desprezado pela reforma litúrgica do C.Vat. II): uso do pão ázimo, na eucaristia.

-O partir do pão é acompanhado da ladainha, o Cordeiro de Deus, que recorda a dupla dimensão pascal e sacrificial vicária da eucaristia.

-"Fermentum"= misturar o pão eucaristizado com o vinho eucaristizado, expressando a unidade sobre a eucaristia do celebrante, ou do que a executa- um gesto que corresponde a fazer da comunidade,embora não reunida, num único e mesmo lugar- o Corpo de Cristo, em união com seu bispo.

1.3-Outros elementos do rito de comunhão na liturgia romana:

-o Pai Nosso cantado ou recitado: com os braços erguidos, em atitude orante / estendidos,em súplica

-Segue-se ao Pai Nosso e sua oração complementar e a doxologia: o rito da paz.

--Sentidos: * a paz e a reconciliação entre os participantes devem ser entendidas como primeiro fruto da eucaristia para construir o Corpo de Cristo.

* o rito da paz pode ser entendido, também, como ampliação ritual do "como nós perdoamos aos que nos ofendem" e do "perdoai-nos as nossas ofensas como..."

* a paz se torna preparação imediata para a comunhão

-- A transmissão da paz se faz de dois modos:

1- a paz se expande como em ondas, a partir do altar, expressando que a paz vem de Cristo

2- a espontânea, a habitual: cada um dá a paz a todos os que estão próximos ou se desloca, para levar a paz aos que estão distantes.

2-O rito de preparação das oferendas

-Corresponde ao gesto de Jesus, na última ceia, de " tomar o pão", para dar graças sobre ele, parti-lo e distribuí--lo

-A assembleia fica sentada e o presidente de pé, exceto para a oração sobre as oblatas, em que a assembleia se levanta para exercício de seu sacerdócio. Ocorre:

1-deslocamento do ambão ao altar

2-movimento da assembleia que se dirige ao altar para levar os dons

-Uma procissão se encerra com uma oração presidencial(na liturgia romana)

2.1-Procissão dos dons:

-Entre os dons apresentados, o pão e o vinho têm primado sob dois aspectos:

a- Unicidade simbólica:trata-se de apresentar ao altar pão e vinho, a matéria a ser usada na eucaristia

b- Qualidade simbólica:ponto de discussão – desafio de achar uma solução,por exemplo,para a qualidade dos ázimos que se usam na eucaristia(quando são eles usados)

-É a apresentação dos dons a Deus

- Expressa o movimento de desapego de si a que Cristo nos arrasta com seu exemplo: "Dei-vos o exemplo, para que façais assim como que eu fiz para vós"

*O caráter da procissão para apresentação ao altar do pão e do vinho, a matéria a ser usada na eucaristia: apresentar os dons da criação – requer uma caminhada tranquila e alegre. "Deus ama a quem dá com alegria".

*Canto de preparação dos dons: expressa o envolvimento da Igreja na obra da salvação e a promessa de que o fruto do trabalho humano permanecerá transformado, quando vierem novos céus e nova terra.

*A oração sobre oblatas: conclui a preparação dos dons e abre espaço para a anáfora.

2.2-Ritos complementares:

-Recebidos os dons e colocados sobre o altar, o presidente antecipa a anáfora, bendiz a Deus pelo pão e pelo vinho

-Acompanham o gesto, duas bênçãos (na apresentação do pão e na apresentação do vinho)

-Prolongamento da apresentação dos dons: a incensação, que unifica dons, altar, presidente da celebração, povo expressando a tensão do coração para o alto, como o incenso sobe em volutas.A incensação antecipa o "Corações ao alto" do diálogo invitatório na anáfora.

-A gota d'água que se mistura ao vinho- de Cipriano: como água e vinho se misturam indissoluvelmente, assim Cristo com a multidão dos fiéis.

-O lavabo é uma ação secundária- após pegar os vários dons apresentados pelo povo, os ministros tinham que lavar as mãos para prosseguir a celebração (isto ocorria/e quando as ofertas materiais são levadas para a região onde está o altar).Simboliza a pureza necessária para o momento da liturgia eucarística prestes a começar, usando-se o Sl 51,4.

-"Orai irmãos"- a linguagem do texto é ofertorial, " que o nosso sacrifício seja aceito..."    


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 



 

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