quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

UM POUCO DE HISTÓRIA



SÍNTESE DA HISTÓRIA DA MORAL
A história da moral começa a ser estudada só a partir da 2ª Guerra Mundial.
I-DO SÉCI AO VI-1)Do séc. I ao IV- a)Os escritos dos padres apostólicos tem uma ética, preferentemente,religiosa,teocêntrica ou cristocêntrica e consiste em querer fazer o que Deus quer.Eles manifestam a importância da moral enfrentando temas significativos para a vida pessoal do cristão,como as conjugal e social. b) Nos alexandrinos(sécs. III e IV) a moral consiste na imitação de Cristo, que é "pedagogo" para a vida cotidiana(Clemente de Alexandria).
Para Orígenes, a possibilidade de perfeição é levar o cumprimento da semelhança com Deus pelo cumprimento perfeito das obras. C)Os africanos de Cartago e África do Norte,tem Tertuliano, que foi rigorista e passa ao montanismo; S. Cipriano; Arnóbio e Lactâncio,que com suas "Instituições Divinas" compõe um verdadeiro tratado de moral, transforma a filosofia moral em teologia moral e constrói uma doutrina moral fundamentada nas verdades natural e revelada.
2- a)A vida cristã, no séc. IV, vive sua idade de ouro da moral patrística,com a cristianização do império romano, florescimento do monaquismo , fortes personalidades na direção da vida da Igreja no Oriente grego e Ocidente latino e expansão fora e dentro do império romano.Através das catequeses batismais, vê-se que a adesão à doutrina cristã comporta a conversão moral.A formação cristã durará por toda vida pela explicação das Escrituras,durante as celebrações litúrgicas.No séc. IV, a vida monástica forma o ideal moral dos cristãos, vislumbrado o deserto. b)Os padres da Capadócia,mais lembrados, são: S.Gregório de Nissa,o padre do misticismo,S.Gregório de Nazianzo e S.Basílio,o Grande que em suas "Regras morais" descreve os deveres gerais dos cristãos,estabelecendo os fundamentos da legislação monástica oriental. C)Antioquia,escola importante, cujo representante maior é S. João Crisóstomo,cuja finalidade é promover o bem moral dos seus ouvintes e leitores,promover a justiça, definir os deveres morais das diversas condições humanas, inclusive na política. d)No ocidente, destacam-se S.Ambrósio,cujo tratado "Dos deveres dos eclesiásticos" é considerado a primeira exposição sintética de moral cristã; Sto. Agostinho:ocupa o primeiro plano na história moral patrística e de todos os tempos.Cristo é o centro da vida e moral agostiniana,que se concentra na caridade, sob as formas de: prudência, fortaleza e temperança.Enfrentou a primeira heresia moral: o pelagianismo, insistência no papel da liberdade humana, quase negando o papel do pecado original.A liberdade e a graça ocupam lugar de primeiro plano na sua moral. 3-Os séculos V e VI na Europa- período das invasões bárbaras. Boécio, Cassiodoro e S. Isidoro deSevilha transmitirão conhecimentos morais do platonismo e estoicismo à Idade Média; e no Oriente, o farão S.Máximo, o Confessor e S.João Damasceno.A teologia moral dos Padres é da perfeição,em busca de virtude, principalmente, a caridade. O ensinamento moral se insere no quadro litúrgico.
II-A TEOLOGIA MORAL DO SÉCULO VII AO XIII- 1)Do século VI ao XI: a) Os livros penitenciais, de confusa história literária era uma coletânea de tarifas penitenciais, aplicadas às culpas diversas advindas das confissões dos pecados, privadamente, a um sacerdote. Tais penitenciais, também, oferecem ensinamentos sobre a vida moral destes períodos obscuros. b)Século XII-Período de Renascença, em teologia moral. *A moral monástica: própria dos monges, abrange, numa única visão,a moral, a espiritualidade e a mística. Atrai numerosas vocações. A fonte desta moral é a Bíblia. O século III foi a época mais brilhante desta moral. S. Anselmo tem seu pensamento baseado na Escritura e recorre à razão.O seu "De veritate" propõe o problema da obrigação moral.
Os cistercenses, representados por S.Boaventura, com moral ligada ao dogma, à espiritualidade, à política sob o signo da paz e é,também, uma moral social atenta à promoção das classes trabalhadoras ou de ofícios. *As artes liberais:Nas escolas urbanas das catedrais e das colegiadas, querem restaurar as sete artes liberais e as três partes da filosofia;lógica,física e ética. O fim é descobrir o ensinamento moral dos antigos com integração de elementos numa síntese cristã superior. Na Escola de Chartres, Bernardo de Chartres coletava e ajuntava trechos morais dos autores estudados. * Abelardo trata os problemas morais com o rigor do raciocínio. Restaura as quatro virtudes morais cardeais. Na sua "Ética", reage,energicamente, contra uma moral demasiado objetiva e mostra a importância do fator pessoal da intenção e um sentido vivo da responsabilidade pessoal. Na segunda metade do século XII opera-se uma espécie de síntese de todas as tendências, é o tempo das sentenças e dos tratados teológicos.
No século XIII, fundam-se universidades; as ordens mendicantes, franciscanas e dominicanas e descobre-se Aristóteles,que tem sua "Ética a Nicômaco" traduzida. a) Da escola dominicana, S. Alberto Magno abre a porta ao pensamento aristotélico e prepara a obra de S. Tomás de Aquino, cuja moral é, essencialmente teológica.Sua moral consiste na visão beatífica, sem negar a felicidade imperfeita alcançada neste mundo. Seus tratados centrais são sobre a lei e a graça. Para o cristão: a lei nova nada mais é do que a presença da graça do Espírito Santo que o gera. Sua moral representa a maior síntese já tentada. Destacam-se entre suas obras: a Summa Theologiae, Summma contra os gentios,etc. b)Na escola franciscana, S. Boaventura propõe uma síntese original:Cristo, Verbo de Deus é o ponto de partida de sua moral. Em "Itinerarium mentis ad Deum", Deus é o fim para o qual tende a nossa vontade enformada pela caridade. Ele vê na fé uma disposição á caridade e à justiça e regulamenta as relações com os outros. a)A doutrina de Duns Scoto, sobre ética, tem como ponto de partida o amor infinito de Deus que pede que o homem o ame por si mesmo e a resposta do homem ao amor divino deve ser absolutamente livre.
b)Moral prática: O IV Concílio de Latrão (1215) impôs a todos os cristãos, após a idade da razão, a obrigação da confissão anual das culpas graves ao próprio pároco. Sumas foram compostas por dominicanos e franciscanos para formar os confessores. No século XIII, são redigidos numerosos Manuais de confessores.
III-A TEOLOGIA MORAL DO SÉCULO XIV AO XVIII:
A partir do Concílio de Trento há a elaboração de novo tipo de teologia moral, que se mantém até meados do século XX.
1-O OCKHANISMO- Para Guilherme de Ockham, Deus é infinitamente livre, é a causa de toda a obrigação moral, que se aplica ao homem, essencialmente, contingente, e Nele não há distinção entre essência, inteligência e vontade. Sua moral é positiva: consiste na obediência à lei.
2-O movimento de elaboração de Sumas para confessores e manuais de confissão tem sua continuidade.
3-Para o Renascimento do Tomismo, no século XVI, o humanismo propõe a volta às fontes e é uma ética que exalta a caridade e a liberdade, entendida como sentido de responsabilidade pessoal.
A Reforma Protestante comporta uma ética das responsabilidades terrestres. A universidade de Paris é o centro principal teológico –moral. João Mair é o primeiro a usar a expressão teologia positiva em contraposição à teologia escolástica, para sublinhar o caráter moral e prático do seu ensinamento. O renascimento tomista ocorre com Caetano, que escreve o primeiro Comentário completo da Summa Theologiae, apresentando magnífica metafísica do dogma e da moral.
4-Em 1551, o Concílio de Trento publicou um decreto doutrinal e alguns cânones sobre a penitência, que condenavam a doutrina protestante.O concílio exigia a integridade da confissão dos pecados mortais. Surgiu a necessidade de ensinamento moral adaptado às necessidades da pastoral sacramentaria preconizada pelo concílio. Em 1563, o Concílio de Trento decretou a fundação dos seminários para a formação do clero. O estudo da teologia moral passa a ser ,exclusivamente, orientado para preparar sacerdotes.
As "Institutiones Morales",que virão a se intitular,simplesmente, "theologia moralis", tem como característica principal a primazia do direito.Na falta do ensino do direito canônico nos colégios fundados pelos jesuítas ou noutros, tal lacuna era preenchida pela moral.O tratado mais importante da moral fundamental é o da consciência.O "princípio do Probabilismo" será enunciado por Bartolomeu de Medina:"Quando há duas opiniões, uma das quais é mais provável e a outra provável simplesmente,é permitido seguir esta última".Este princípio atrairá a atenção por mais de três séculos e ocupará o lugar mais importante das "Institutiones Morales" sobre a consciência. do quadro da probabillidade.Degenerou numa moral de classe,tornando-se indulgente no tocante aos preconceitos da nobreza(ex: os duelos e aborto). As proposições laxistas abrangiam o conjunto da moral como testemunhado pelas listas de condenação do Magistério.
6-Violenta reação às proposições laxistas com condenação de certo número de livros de moral ocorre:vem a inserção do jansenismo,que tem seu ponto de partida na corrupção total da natureza humana devido ao pecado original; a concupiscência inclina ao mal. Em moral,Pascal considera a vontade de Deus contraposta à consciência. Há pessimismo em relação ao matrimônio: a mais baixa das condições do cristianismo.
7-Rigorismo:reação ao laxismo. As condenações do Magistério contribuiu para o seu surgimento.Em 1657, dissocia-se do probabilismo, para assumir o probabilionismo como doutrina oficial: "é sempre preciso seguir a opinião mais provável".A moral rigorista de Genet é a moral típica ensinada nos seminários europeus,no século XVIII.
8-S. Afonso de Ligório: teólogo moralista, elabora um sistema, o equiprobabilismo que articula-se em três princípios: primazia da verdade, os deveres da consciência e os direitos da liberdade humana.Sua moral se imporá na igreja,substituindo a moral proposta pelos manuais rigoristas.
IV-A TEOLOGIA MORAL DO SÉC. XIX ATÉ HOJE:
1- Os manuais de teologia moral retornam: a doutrina das "Institutiones morales", segundo a ordem do decálogo.
Tais manuais não compreendiam a doutrina social da Igreja, que se desenvolve após a publicação da encíclica Rerum novarum, de Leão XIII.
2-A Escola de Tübingen-
-A filosofia de Kant ajuda a retomar consciência da importância da intenção,em moral.
-Tübingen organiza sua moral à volta de princípios, em que apelava para a Escritura, sem resolver problemas concretos.
3-A renovação tomista: No século XIX, abre-se caminho,na Alemanha, para a reaproximação ao pensamento tomista.
4- O século XX:
a)De 1900 a 1930- Schilling, bom conhecedor de S. Tomás,assume a caridade como princípio da moral, e conserva a divisão de deveres com Deus. Os manuais de teologia moral afonsiano conhecem várias reedições, integrados com as intervenções do Magistério e com decisões do Direito Canônico,promulgado em 1917.
b)De 1930 a 1960-Tenta-se estruturar uma teologia moral positiva da vida cristã.Na Alemanha, as morais são cristocêntricas.Alguns autores propõem como temas centrais da moral o corpo místico de Cristo.
Para Soren Kierkegard, o homem deve responder ao apelo concreto de Deus num momento determinado; S.o kairós : o momento salvífico determina o nosso modo de agir atual.
c)A teoria moral do C.Vaticano II- O Conc. Vat. II falou pouco de moral. O decreto OT ao nº6 dá diretrizes para uma moral centrada no mistério de Cristo e na história da salvação e na caridade.O fundamento último dos direitos da consciência está na dignidade da pessoa humana.Os elementos racionais são assumidos na fé. O Concílio tentou, depois, dois ensaios de moral: 1- moral da caridade integral(L.G.) e outro superando a ética individualista(G.S.),apresentam os princípios fundamentais de moral social, no nível planetário.
d)Depois do Concílio Vaticano II- No momento deve se contentar com o enfoque interdisciplinar, preferentemente, extrínseco.Pode-se concluir que a teologia moral católica se empobrece. A moral esgota-se quando se deixa aprisionar em sistematização filosófica que não pode enfrentar todas as exigências da vida em Cristo. A moral floresce quando é realista: quando perscruta a natureza e reconhece, como fonte das exigências da vida em Cristo, a fé, a caridade,a graça, os sacramentos; mas tais elementos devem definir-se em determinações concretas.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário